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Lula Marques/Agência PT |
Nos últimos anos, a população brasileira
se interessou como nunca pela política. No entanto, parte dessa população,
historicamente pouco engajada, resolveu participar do debate sem se politizar. Muitas
vezes munida com um conhecimento raso, baseada em uma mídia igualmente rasteira
e tendenciosa, usa repetições sem sentido como munição de seu discurso. Não
importa o quanto as evidências apontem para os outros lados, as esquerdas são
culpabilizadas por todas as mazelas da nação. O ódio é direcionado e tem alvo
certo. A todos os outros, a redenção.
O ódio, aliás, parece ter sido
legitimado desde o golpe. Ele está travestido com muitos nomes, como, por
exemplo, humor e opinião. Durante o processo de impeachment de Dilma, a misoginia estava liberada nas ruas e na
internet. Os nomes dos quais ela foi chamada são impublicáveis. Mas as ofensas
sempre eram direcionadas ao fato de ela ser mulher, colocando em dúvida sua
orientação sexual, sua pretensa promiscuidade, sua sanidade mental e mesmo se
uma mulher estaria apta para exercer o cargo de Presidente da República. O
discurso parecia político, mas era de ódio. Era fascista e cruel.
O humor também é utilizado para
atacar mulheres e outras minorias. Apenas para citar um caso recente, temos a obscenidade
sem limites de Danilo Gentili, respondendo uma comunicação oficial de uma
deputada do PT. A resposta consistiu em rasgar o conteúdo, o colocar nas partes
íntimas e devolver, cheio de ironia, à Parlamentar (tudo isso sem ler o
conteúdo). Teria o “humorista” tido a mesma reação se a comunicação viesse de
um deputado homem e de um partido de direita? Honestamente, creio que não. Não
precisa falar que a presepada foi comemorada pela área conservadora da
sociedade, que aproveitou para ofender ainda mais Maria do Rosário, nas redes
sociais. Acabou a empatia. E sem empatia, sobrevive o ódio. E o ódio contra a
esquerda é lícito e exaltado.
Os exemplos não param por aí. Para aquele que quer debater política sem se
politizar, a corrupção foi toda causada por um único partido, os militantes de
esquerda são defensores de bandidos, os manifestantes que não usam camisa da
CBF são vândalos e quem exige democracia está promovendo uma guerra civil. Sob
o ponto de vista do “neo politizado” a sociedade fica dividida em “cidadãos de
bem” e “vagabundos e criminosos”. Essa é a luta do bem contra o mal, no país do
preconceito legalizado. E se você está do “lado do bem”, você pode chamar a
luta do oprimido de violência ou simplesmente de “mimimi”. Afinal, você está
munido do ódio. O ódio contra esses esquerdopatas.
Criminalizar as esquerdas, representadas por seus políticos
e militantes, interessa apenas aos maiores detentores de Capital e poder. Aos maiores grupos industriais, aos grandes
empresários da comunicação e à ala conservadora da política no Congresso. A “caça
aos comunistas” abrirá um vácuo no poder a ser ocupado por algo tenebroso.
Extrema direita e bancada evangélica são candidatas. Mas quem debate política
sem se politizar, não se preocupa com as consequências.