Bandido bom é bandido morto. Traficante quando é alvejado pela polícia é
motivo de comemoração. Se ele estiver na favela. A imagem desse bandido no
imaginário brasileiro é sempre um negro, pobre, em uma área carente, segurando
um fuzil. Mas droga é um negócio lucrativo e nem todo traficante está na
periferia. Recentemente, um grampo da Polícia Federal flagrou uma frase
emblemática do Senador Zezé Perrella: “Não faço nada de errado, só trafico
drogas”.
O Senador ficou politicamente marcado pelo caso de quase
meia tonelada de cocaína, encontrada no helicóptero pertencente a uma empresa
de sua família. O piloto, que era funcionário de seu filho, Gustavo Perrella,
na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, foi preso e os Perrella absolvidos.
Zezé Perrella já era Senador, com foro privilegiado e ainda exerce seu mandato,
pelo PSDB. A conversa, divulgada pela PF, foi justamente com outro Senador tucano,
Aécio Neves, que cobrava de Perrella mais fidelidade em suas declarações sobre
a Operação Lava Jato.
O Senador reafirma que é inocente no caso do helicóptero e que
foi irônico na gravação da PF. Mas não há dúvidas de que os indícios de uma
ligação, ainda que indireta, com o tráfico são contundentes. No entanto, o caso
não ocupou tanto destaque nos noticiários ou nos debates nas redes sociais. A
polêmica declaração passou praticamente batida pela mídia ou pela ala
conservadora da sociedade. Afinal, Zezé Perrella é branco, rico, empresário,
senador e, no alto de sua moralidade, participou da comissão que julgou Dilma
Rousseff, por supostos crimes de responsabilidade.
Na periferia, não é preciso haver tantas evidencias. Ações violentas nas favelas brasileiras é
rotina. Muitas vezes, com mortes de inocentes.
Normalmente, os números não são tão divulgados, pois os mortos são em
sua ampla maioria negros e pobres. A sociedade aprova uma verdadeira chacina
étnica em nome da “guerra às drogas”, e ao mesmo tempo admite que os grandes
casos de apreensão de drogas continuem obscuros e mal explicados.
No Congresso Nacional, a impunidade e indignação seletiva já
estão virando uma infeliz tradição do povo brasileiro. Na favela, a violência e
a arbitrariedade é uma triste rotina.
Indícios de crimes, quando emergem em ambientes tão distintos, despertam uma
reação incrivelmente diversa das autoridades e da população: a uns pena de
morte; a outros, absolvição. E assim
segue a hipocrisia no país da desigualdade.